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Causos associados aos butiazais são compartilhados na Escola Tubino, em Quaraí (RS)

6-03-2018

Os butiazais do Coatepe e Salsal guardam muitas lendas e saberes de quem vive ou viveu em meio aos sentinelas bandeiras de uma paisagem natural e uma cultura surpreendentes. E foi inspirado nisso que o Instituto Curicaca convidou alunas, alunos e familiares da escola João Tubino a escreverem o Livro de Causos das Famílias. Cada turma recebeu um caderno com folhas em branco para que alunos, junto com pais, avós e outros familiares registrassem ali as ricas histórias transmitidas de geração em gerações. Depois de uma rodada, quatro delas foram escolhidas a serem compartilhadas com todos os alunos, professores e funcionários da escola. Pais e mães coautores vieram ao encontro e, junto aos filhos, nos encheram de fatos e ficções, sabe-se lá, ricamente recheadas de entusiasmo, alegria e muita criatividade. 


 
No encontro, de forma simbólica, foi plantado na escola um arboreto de buiazeiros (Butia  yatai). Com ajuda de funcionários e professores, mas principalmente com muito envolvimento dos alunos, cada turma plantou três mudas produzidas no viveiro da família Aristimunho. As sementes foram plantadas há três anos, pelo Fernando Aristimunho, transplantadas para sacos pela equipe do Curicaca e cuidadas pela Gabi, que estuda no quarto ano na escola Tubinho. Em conjunto, as alunas e os alunos escolherem o nome das plantas que serão cuidadas e fotografadas durante o crescimento. Tudo vai ser registrado na fanpage do Curicaca da escola. 
 

Por que em Quaraí?

Na comunidade do Coatepe e Salsal, em Quaraí, o Instituto Curicaca, em parceria com a Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e o Instituto de Biociencias da UFRGS, vem desenvolvendo um projeto que busca harmonizar a pecuária familiar com a conservação dos butiazais, ecossistema no qual predomina a palmeira butiazeiro. A espécie, que no Brasil ocorre apenas ali e na Região das Missões do Rio Grande do Sul, está ameaçada de extinção. Pressionada pelo pastoreio do gado, que se alimenta das plantulas (estado recém germinando em que a planta parece um capim) e dos indivíduos jovens,  e também pelas recorrentes queimadas do campo, a população de butiazeiros de Quaraí, em geral, não apresenta indivíduos jovens reprodutivos e os adultos, já centenários, estão aos pouco morrendo. O futuro assim está perdido e, se nada for feito, daqui a cem ou duzentos anos os butiazais farão parte apenas dos causos das famílias, como hoje fazem lobisomens, a Salamanca do Maraú e outras figuras ficcionais de suas lembranças.
 
Para ajudar a evitar esse fim, e também o risco de desaparecimento local da pecuária familiar sobre campo nativo, é que estamos atuando na região. No momento estamos testando a implantação de ilhas de biodiversidade em cinco propriedade que nos cederam uma parcela de 25 x 25m. Ali, a área contendo alguns butiazeiros adultos reprodutivos foi cercada, impedindo o acesso ao gado. As famílias também estão cuidando para que a queimada de campo não atinja o local. Com isso já é perceptível a olho nu o crescimento das plantas jovens e o recrutamento que não estava mais ocorrendo. Pesquisadores vêm acompanhando o processo, que já está no seu terceiro ano e logo serão divulgados os resultados científicos.